Ambiente | Em Famalicão 2017-2018 — Um novo impulso à cidadania ambiental?

Ambiente | Em Famalicão 2017-2018 — Um novo impulso à cidadania ambiental?

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A partir de Famalicão — e tendo como datas de referência 7 de outubro de 2017 e 10 de novembro de 2018 — poderá estar a surgir no nosso país, ainda em fase embrionária, um novo impulso à cidadania em matéria de ambiente. Ou, pelo menos, e sobretudo, no Noroeste e Norte, grosso modo entre uma linha transversal que prolonga o curso do rio Vouga e outra semelhante no curso do Minho até à zona fronteiriça a Leste. Embora sem exclusões, para além de tais limites puramente práticos e flexíveis.

É um embrião que poderá ou não vir a desenvolver-se nos próximos anos. Tudo dependerá do que quiserem e forem capazes de fazer nos próximos anos os mais de 50 grupos, formais e informais, coletivos, associações, iniciativas, movimentos, projetos, e entidades, incluindo algumas poucas empresas, e os mais de 100 cidadãos, como representantes daqueles ou a título individual, que estiveram presentes — nalguns casos, que quiseram estar presentes sem o terem conseguido — em dois encontros realizados nessa cidade naquelas duas datas.

Ambos foram decorrentes da iniciativa e cooperação entre a Associação Famalicão em Transição e a Campo Aberto-associação de defesa do ambiente, sediada na região do Porto, tendo tido o apoio da Câmara Municipal de Famalicão, que disponibilizou para o efeito o auditório da Casa do Território, no belo Parque da Devesa, e em ambos se fez representar.

Toda a gente pelo ambiente?

Nas últimas décadas, a fragilidade, o perigo que corre o território, a natureza, a água, o ar, numa palavra, o ambiente em que vivemos, tornou-se omnipresente nos jornais, rádios e televisões, nas escolas, na boca dos responsáveis da administração e dos dirigentes políticos, e até na publicidade. Quer isso dizer que o nosso povo, o cidadão comum, está hoje bem consciente desses perigos e decidido a empenhar-se ou a colaborar na resposta que é preciso dar-lhes?

Há razões para duvidar.

Todo esse arsenal de discursos, propagandas, referências — com coisas positivas, sem dúvida —pode ter também por efeito, quando não acompanhado de ações coerentes e bem concebidas, orientadas para as soluções, um resultado inverso e perverso. O de criar um clima difuso de saturação, de banalizar as ameaças reais e habituar o ouvido a elas, condicionando como reflexo o clássico encolher de ombros ou o fazer ouvidos de mercador.

É frequente considerar-se o nosso povo como individualista e pouco propenso ao sentido da organização perseverante e de longo fôlego — ora é isso precisamente o que a nossa degradada situação ambiental exige.

Resulta desse civismo débil um associativismo algo anémico — em muitos domínios, e não apenas no do ambiente. Mas, neste, essa debilidade é também patente, e inibe e enfraquece muitas das boas iniciativas que vão surgindo, felizmente, um pouco por todo o lado, incidindo sobre os mais diversos aspetos ambientais.

Sair do isolamento, sair da impotência

Um dos fatores que mais vulnerável torna a cidadania e a intervenção de pessoas e grupos neste domínio é o sentimento de isolamento e a impressão de impotência que daí resulta. Ora, paradoxalmente, vêm também multiplicando-se as iniciativas e ideias criativas neste tema, ora por parte de grupos ora por vezes mesmo de pessoas isoladas.

Sair do isolamento, sair da ameaça de impotência, unir esforços, cooperar entre si e com todos os que partilham valores e preocupações idênticas, é pois, na visão dos que organizaram os dois encontros de Famalicão, o principal objetivo. A cooperação e a convergência serão a principal ferramenta para tornar cada vez mais presente na sociedade a ideia de que é possível, desejável e imperativo resistir à degradação ambiental. Para bem das gerações dos nossos filhos, netos e tetranetos — mas desde já para o de todos os que estão vivos.

Conseguiremos, não conseguiremos? Uma coisa parece certa. É no esforço de concertação, cooperação e convergência que reside o remédio e o antídoto para as muito compreensíveis reações de desalento e cansaço que atingem por vezes aqueles cidadãos mais lúcidos e empreendedores na resposta à crise ambiental, precisamente esses que sacodem o marasmo, a apatia, o desinteresse e a indiferença de muitos — e o cinismo e falsificações de alguns outros.

O caminho mal foi iniciado. Foi dado um passo, dois passos. Dir-se-ia, como diz o provérbio, que é meio caminho andado. Mas não nos iludamos. Muitos passos teremos ainda que dar — a não ser que nos deixemos paralisar, para regozijo de alguns setores que desejam tudo menos cidadãos empenhados, ativos e intervenientes.

Esperamos voltar em breve, com mais algumas notas para esta rota.

Se quiser juntar-se a nós: mailto: Carta de Famalicão

Para mais informações sobre os dois encontros: Carta de Famalicão – Encontros 2017 e 2018

 

Imagem: Parque da Devesa

 

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Categorias: Sociedade

Acerca do Autor

José Carlos Costa Marques

José Carlos Costa Marques (Porto, 1945). Foi professor, tradutor e assistente editorial. Reformado, mantém atividade como pequeno editor. Intervém em movimentos ecológicos desde 1974. Atualmente presidente da direção da associação de defesa do ambiente Campo Aberto.

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