Festivais de Verão | FIMPV. O prazer de ouvir músicos de eleição a preços simbólicos

Festivais de Verão | FIMPV. O prazer de ouvir músicos de eleição a preços simbólicos

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O Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim – Costa Verde (FIMPV) iniciou-se na passada sexta-feira, 6 de julho, e irá decorrer até ao próximo dia 28 do corrente mês. O FIMPVV, criado em 1979, vai atualmente na sua 40ª edição e é uma oportunidade única na região para ouvir alguns dos melhores e mais prestigiados músicos internacionais.

 

 

Desta feita, e como vem sendo hábito, o Festival teve a sua habitual abertura oficial com uma conferência proferida por Rui Viera Nery, aquele que é considerado o mais relevante musicólogo português, sob o mote “Viana da Mota e a Construção de uma Identidade Musical Portuguesa”.

Rui Viera Nery, nascido em Lisboa, iniciou os seus estudos musicais na Academia de Música de Santa Cecília mas seria na História da Música e na Musicologia, em particular, que encontraria o seu caminho profissional. É autor de vasta obra bibliográfica sobre a antiga clássica portuguesa, mas também de diversos estudos sobre o Fado, pelos quais será mais conhecido entre o grande público.

Aluno de Liszt, Viana da Motta foi pianista virtuoso, pedagogo, compositor, conferencista e regente de orquestra. Sempre aplaudido pelo público e pela crítica, como compositor, José Vianna da Motta foi importante para a História da Música em Portugal no âmbito da “música de concerto”, por lhe caber o mérito da primeira procura e criação consciente de “música culta” de caráter nacional. São disso testemunho a sua obra mais relevante a Sinfonia “À Pátria” (que apresenta como inovação no uso nacional de temas genuínos do folclore português numa sinfonia), mas também as suas composições pianísticas, bem como as canções para canto e piano que escreveu.

Sem dúvida, Viana da Motta é uma das personagens mais versáteis e relevantes do mundo da música portuguesa na primeira metade do século XX.

 

O Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim registou o seu início propriamente dito, ontem, sábado, 7 de julho, na Igreja Matriz. Na sua abertura, apresentaram-se Jordi Savall e o seu agrupamento intrumental Hesperion XXI, acompanhados pelo agrupamento vocal e instrumental Tembembe Ensemble Continuo.

Jordi Savall e os seus acompanhantes apresentaram neste concerto ”Folías Antiguas & Criollas – da Antiga Hespéria ao Novo Mundo”.

Jordi Savall é uma das maiores personalidades musicais mais polivalentes da sua geração. Desde há mais de cinquenta anos, tem dado a conhecer ao mundo maravilhas musicais deixadas na obscuridade, indiferença e esquecimento, assim sendo um dos grandes responsáveis pela recuperação da música antiga nos nossos dias, especialmente pela sua vertente de abertura e recuperação de diversas linguagens musicais, nos seus planos culturais e geográficos.

Fundou, com Montserrat Figueras, os agrupamentos Hespèrion XXI (1974), La Capella Reial de Catalunya (1987) e Le Concert des Nations (1989) com os quais explorou e criou um universo de emoção e de beleza que difunde no mundo inteiro para felicidade de milhares de apaixonados pela música. Os membros do Ensemble Tembembe estudaram na Escuela Nacional de Musica de la UNAM no México e noutras instituições musicais mexicanas, da Colômbia, Estados Unidos e França. Atualmente são professores na Universidade UNAM de Mexico, no Centro Morelense de les Artes e no Centro Ollin Yoliztli.

Entretanto, já hoje, domingo, 8, também na Igreja Matriz, o Festival prossegue. Apresentar-e-á o agrupamento vocal e instrumental Ensemble Vox Luminis, sob a direção musical de Lionel Meunier a interpretar ‘Bach, Arnstadt’.

Vox Luminis é um agrupamento de música antiga criado na Bélgica em 2004, por iniciativa de Lionel Meunier, seu fundador e diretor artístico. Define-se como um grupo de geometria variável composto por solistas – a maior parte formados pelo Real Conservatório da Haia – de um contínuo e de instrumentistas adicionais (de uma orquestra), de acordo com as necessidades. O repertório é essencialmente italiano, inglês e alemão e estende-se dos séculos XVI ao XVIII. Mais do que um repertório definido, é a paixão pela música antiga e pelo público que os seus membros transmitem com rigor e fidelidade.

Mas outros concertos merecem destaque nesta 40ª edição do Festival Internacional da Póvoa de Varzim, pelo nível de excelência que poderão proporcionar aos melómenos.

Na próxima 3ª feira, o FIMPV dará a escutar, no Cine-Teatro Garrett, Pedro Burmester, músico de eleição de origem portuense que desde 1987, ano da sua 1ª gravação em disco, com gravações de Schumann e Schubert, deixa os seus ouvintes sempre deliciados. Aluno de Helena Sá e Costa, terminou o Curso Superior de Piano do Conservatório do Porto com 20 valores. Depois de ter estado ligado à Casa da Música, regressou atualmente à sua vida de intérprete.

Pedro Burmester participou já noutras ocasiões no Festival da Póvoa de Varzim, mas terá casa cheia,  com toda a certeza, para o ouvirem tocar obras de Chopin, Schubert e Lopes-Graça. Sobre este último compositor, sem dúvida um dos mais importantes do panorama português do Século XX, referiu o pianista: “Conheci o compositor Fernando Lopes-Graça, quando tinha apenas 11 anos, no concurso de piano “Cidade da Covilhã”. Lopes-Graça não só era o presidente do júri, como uma das suas obras era peça obrigatória na prova. Nunca mais me esqueci deste encontro. No final do concurso, já com os prémios atribuídos, Lopes-Graça dirigiu-se aos premiados e manifestou com toda a clareza a sua opinião “nenhum de vocês tocou bem a minha obra” e, de imediato, demonstrou-nos, ao piano, como se deveria tocar. Nunca me esqueci de tamanho rigor, clareza e verdade.”

Em 15 de julho será ocasião de escutar Alfredo Bernardini e o Ensemble Zefiro que, nessa noite, na Igreja Matriz, irão apresentar obras de Johan Sebastian Bach em concerto a não perder.

Natural de Roma, Alfredo Bernardini possui um currículo invejável. Ao longo da sua brilhante carreira tem colaborado com o Hespèrion XX, Le Concert des Nations, La Petite Bande, Freiburger Barockorchester, The English Concert, Bach Collegium Japan, Balthasar Neumann Ensemble e outros agrupamentos de prestígio. Participou também, até hoje, em mais de 1 centena de gravações. Em 1989 fundou o Ensemble ZEFIRO juntamente com os irmãos Paolo e Alberto Grazzi. As gravações com o Ensemble Zefiro obtiveram importantes prémios, como o Cannes Classical Award e o Diapason d’Or de l’Année em 2009.

Um pouco mais à frente, a 20 de julho, a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, dirigida por Martin André, dará um concerto, no Cine-Teatro Garrett, em que serão tocadas obras de Haydn, Shostakovich e Prokofiev. Os solistas serão Raúl da Costa, ao piano, e Sérgio Pacheco, no trompete.

A origem da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música remonta a 1947, ano em que foi constituída a Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música do Porto que, desde então, passou por diversas designações. É parte integrante da Fundação Casa da Música desde julho de 2006. Martin André estudou violino e piano na Yehudi Menuhin School e estreou-se profissionalmente a dirigir na Ópera Nacional de Gales, em 1982. Recentemente comemorou 30 anos de uma carreira desenvolvida em teatros de ópera e salas de concerto de todo o mundo. Sérgio Pacheco é Chefe de Naipe de Trompete da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música. Raúl da Costa nasceu na Póvoa de Varzim e iniciou os seus estudos musicais na Escola de Música local. Foi premiado no 1º Concurso da União Europeia, em Praga. Obteve em 2016 o 1º prémio e todos os prémios especiais do concurso internacional ZF-Musikpreis. É bolseiro da Fundação Gulbenkian e integra a classe do professor Bernd Goetzke, na Hochschule für Musik und Medien (Hannover).

Rinaldo Alessandrini, músico de eleição, também já se apresentou no Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim com enorme sucesso. Desta feita, na Igreja Matriz, apresentar-se-á com o seu Concerto Italiano, agrupamento do qual foi fundador e é diretor, em 21 de julho, na Igreja Matriz. Rinaldo Alessandrini é reconhecido como um recitalista em cravo, fortepiano e órgão, e considerado como um dos mais fidedignos intérpretes de Monteverdi em todo o mundo. Sobre a sua adaptação das ‘Variações Goldberg’ e da ‘Aria variata alla maniera italiana’ de Bach (inicialmente escritas para instrumento de teclas) a um pequeno agrupamento, que irá apresentar, Alessandrini esclarece que […] «se trata de um divertimento, de um prazer intelectual subtil, cultivado ao longo de um ano de gestação e de realização do projecto. […] O resultado oferece a possibilidade de reescutar a polifonia das Variações Goldberg (bem como do resto do programa) com a magnificência sonora de um grupo de cordas, que isola as linhas singulares ao recriar a unidade contrapontística, realçando ainda mais a sua extraordinária riqueza e criatividade.»

A 25 de julho, no Cine-Teatro Garrett, apresentar-se-á um dos grandes mestres do piano, Arcadi Volodos. Nascido em S. Petersburgo, em 1972, Arcadi Volodos iniciou os seus estudos musicais com lições de canto e direção. No entanto, como pianista, só começou a estudar seriamente, em 1987, no Conservatório de S. Petersburgo. Estrear-se-ia em Nova Iorque, em 1996. Desde então, tem-se apresentado no mundo inteiro em recital e com as maiores orquestras e chefes de orquestra. O seu recital de piano de estreia, no Carnegie Hall, foi premiado com um ‘Award-winning’ da Gramophone, uma das mais importantes revistas de música clássica. ‘Volodos Plays Brahms’, a última gravação, foi imediatamente considerada como um marco na cena musical: foi premiada em Novembro de 2017 com o Edison Classical Award e o Diapason d’Or.

Por último, destacamos ainda o espetáculo coral com que termina a 40ª edição do Festival Internacional da Póvoa de Varzim. Assim, na noite de 28 de julho, na Igreja Matriz, apresentar-se-ão em conjunto o Choeur Arsys Bourgogne e a Pulcinella Orchestra. O agrupamento vocal Arsys Bourgogne interpreta quer música antiga quer música contemporânea. Fundado em 1999 e dirigido durante 15 anos por Pierre Cao, transporta no seu ativo uma bela história marcada pelo qualidade e excelência. Mihály Zeke é o seu atual diretor. Nascido em 1982, cresceu em Budapeste e em Atenas. Estudou piano, órgão e direcção na Musikhochschule de Estugarda. Pelo seu lado, há dez anos, o Ensemble Pulcinella reunia um coletivo de solistas e instrumentistas de câmara virtuosos i igualmente apaixonados pela prática em instrumentos históricos. Trabalham em torno de Ophélie Gaillard, um espírito de uma curiosidade insaciável, que denota o gosto pelo risco, um apetite imoderado por todo o repertório do violoncelo concertante sem fronteiras – eis o que distingue desde há muito esta brilhante intérprete franco-helvética («Revelação solista instrumental» nas Victoires de la Musique Classique 2003).

Nesta noite, os dois agrupamentos aliam-se para dar vida a uma obra pouco divulgada, o magistral oratório de Carl Philipp Emanuel Bach: “Resurreição e Ascensão de Jesus“.

 

Conrad Schmitz (Arsys Bourgogne; divulgação)

 

O Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim – Costa Verde – Portugal (FIMPV) foi criado em Julho de 1979 pela concessionária da zona de jogo local, a SOPETE, sob proposta do pianista Sequeira Costa.

A fundação do FIMPV obedecia a quatro objectivos nucleares: apresentação de intérpretes de nível internacional e dos músicos portugueses mais relevantes; lançamento de jovens intérpretes portugueses, ainda desconhecidos do grande público; valorização dos monumentos arquitetónicos da região como espaços de concerto; e promoção da região em Portugal e no estrangeiro. Subjacente a esses objetivos tem estado a preocupação constante da divulgação das obras-primas da grande música europeia de todas as épocas e o apoio à criação contemporânea.

O Ministério da Cultura, através da Secretaria de Estado da Cultura, presta o seu apoio estruturante desde 1997. Algumas empresas nacionais e regionais contribuem também com o seu apoio financeiro ao abrigo da Lei do Mecenato, embora de forma residual. O FIMPV beneficia da colaboração estabelecida com alguns dos mais belos templos religiosos da região, como espaços de concerto, nomeadamente as Igrejas Matriz, da Lapa, de S. José de Ribamar e da Misericórdia, na Póvoa de Varzim, e a Igreja Românica de S. Pedro de Rates.

Embora sedeado na Póvoa de Varzim,o FIMPV exerce a sua influência direta por todo o Norte do país e contribui decisivamente para despertar a curiosidade e formar um público próprio e renovado de edição para edição, num admirável esforço de descentralização cultural.

Ao longo dos 40 anos da sua existência, o FIMPV tem promovido artistas de renome nacionais e estrangeiros, revelando jovens talentos portugueses através de parcerias com o Prémio Jovens Músicos da RDP e o Festival de Música do Estoril. São de destacar alguns nomes, de uma extensíssima lista, que já passaram pelo Festival, como Alexander Melnikov – piano (1997, 2000, 2007, 2011 e 2017), Alfred Brendel – piano (1983), Ana Bela Chaves – violeta (1979 e 2009), Ana Mafalda Castro – cravo (1991, 1993, 1994, 1997, 2002, 2006; e agora, novamente em 2018), António Saiote – clarinete (1993, 1997, 1998, 1999, 2001, 2003, 2004, 2008 e 2017), Anner Bylsma – violoncelo (1993 e 1995), Augustin Dumay – violino (2008), Ballet Gulbenkian (1982, 1994, 1995 e 1996), Cantus Kölln (2001, estreia em Portugal), Coro Gulbenkian (Portugal) / Michel Corboz (2012, 2015 e 2016), Fabio Biondi – violino e direcção musical (1993, estreia em Portugal, 1998 e 2006), Gabrieli Consort & Players e Paul McCreesh (1997 – estreia em Portugal –, e 1998, 2000 e 2013), Graindelavoix (2009, estreia em Portugal), Gustav Leonhardt – cravo (2008), Helena Sá e Costa – piano (1981), Hespèrion XXI– (2005, 2006), Huelgas Ensemble e Paul van Nevel (1996-1998, 2004 e 2012), Mstislav Rostropovitch – violoncello (1981), Orquestra Gulbenkian – (1980-1986, 1992, 2000 e 2015), Orquestra Nacional de Espanha – 1996), Orquestra Sinfónica Portuguesa, (1994), Paul Tortelier – violoncelo (1981 e 1985), Quarteto de Cordas Alban Berg (1999 e 2001), Quarteto de Cordas Pavel Haas (2011 – estreia em Portugal –, e 2012 e 2017) e Tom Koopman – cravo (1992 e 2001), entre muitos outros.

Ao longo do seu historial, o FIMPV tem procurado estar a par e, por vezes, antecipar as tendências estéticas da arte musical contemporânea, proporcionando a apresentação dos mais respeitados mentores da música antiga “historicamente informada” e dos expoentes internacionais do repertório clássico-romântico e da contemporaneidade. Continua a imprimir um forte apoio aos novos valores da criação e interpretação portuguesas, sem descurar o esforço de captação e formação de novos públicos através de diversas atividades complementares e manifestações paralelas, muitas delas ao longo do ano.

Todos os concertos têm início às 21h45.

O ingresso, por espetáculo, custa 3,00 € e há ainda a possibilidade de adquirir bilhete passe para todos os espetáculos por 25,00 € e a brochura por 5,00 €. Os espetáculos incluídos em “Manifestações Paralelas” são de entrada livre.

Os bilhetes podem ser adquiridos através da plataforma BOL, no Cine-Teatro Garrett, na Fnac, Worten e CTT e, apenas nos dias dos concertos a realizar em cada um destes recintos: Auditório Municipal, Igrejas Matriz e de S. Pedro de Rates.

 

 

Imagens de destaque: Jordi Savall (FIMPV; divulgação)

Outras imagens: Rui Viera Nery (FIMPV; divulgação), Jordi Savall (divulgação – fb), Jordi Savall & Tembembe Ensemble Continuo (FIMPV; divulgação), Vox Luminis (divulgação – fb), Pedro Burmester (divulgação – fb), Alfredo Bernardini & Ensemble Zefiro (divulgação – fb), Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (divulgação – fb), Arcadi Volodos (Marco Borggreve; divulgação – fb), Pulcinella Orchestra (divulgação – fb) e Arsys Bourgogne (Conrad Schmitz; divulgação – fb) e FIMPV – 40ªed. (flyer – divulgação).

 

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