Cinema | 50 anos da Secção de Cinema da FAC assinalados em sessão especial na Casa das Artes

Cinema | 50 anos da Secção de Cinema da FAC assinalados em sessão especial na Casa das Artes

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O Cineclube de Joane, quase a celebrar 20 anos de atividade (em 23 de setembro próximo), assinala, numa sessão em parceria com a Casa das Artes, os 50 anos da Secção de Cinema do FAC. Após a projeção de O Carterista, de Robert Bresson, haverá um debate com alguns dos fundadores e promotores, nomeadamente Artur Sá da Costa, Joaquim Loureiro e Macedo Varela.

 

 

Pickpocket foi publicado em 1959 e foi também um dos primeiros filmes apresentados pela Secção de Cinema da FAC de Famalicão.

De acordo com a sinopse do filme divulgada pelo Cineclube de Joane, este coloca uma interrogação de fundo à sociedade em geral: “Não seremos capazes de admitir que alguns homens capazes, dotados de inteligência,talento e até mesmo génio, e indispensáveis à sociedade, em vez de estagnarem, não deveriam, em certos casos, ser livres de desobedecer à lei?”

Michel, o protagonista, pensa dessa maneira. E acredita nisto de tal forma que, em vez de seguir o conselho do seu bom amigo Jacques e procurar um emprego, aventura-se e inicia uma carreira de carteirista. E, mesmo apesar das suspeitas do comissário da polícia que o tem em permanente vigilância, Michel vai aperfeiçoando de dia para dia as suas técnicas e tornando-se eufórico perante cada novo sucesso.

Segundo Rodrigo Carneiro, na CineReporter, O Carteirista possui um argumento “livremente baseada no romance “Crime e Castigo”, de Dostoievski. Bresson era fã do escritor russo. No entanto, é também possível perceber influência de Albert Camus – Michel (Martin LaSalle), o protagonista, poderia ser o personagem principal do romance “O Estrangeiro”. Ele é um rapaz inteligente e culto, que não gosta de trabalhar e bate carteiras para sobreviver. Michel abandonou a mãe enferma, não quer ter mais nenhum contacto com ela e mora num apartamento apertado cuja porta não fecha.

Daniel Baz, na Obvious, refere-se ao filme, considerando que “o descarte da emotividade na expressão está na base da “teoria” do cinema que Bresson desenvolveu”, como “um manifesto de seu estilo autoral, sustentado por uma direção e atuações económicas, mas também como a experiência brutal do citadino alienado da comunidade que o circunda. Não há grande golpe, não há perseguições e o suspense é sóbrio. Esta precariedade condiz com a vida sem glamour do protagonista e a ausência de curvas e de emoção sustentada pelo tratamento da trama é vivenciada na expressão do ator.”

Por seu turno, Roberto Ribeiro, em Cineplayers, salienta a “edição, ao mesmo tempo ágil, mas quase invisível, alternando a imobilidade e o movimento com grande destreza.” Acrescenta que “a fotografia é belíssima e bastante nítida, trabalhando minimamente com variações de luz nos interiores.

Robert Bresson entrou para a história do cinema com um número muito reduzido de obras, entre as quais Jacques, o Fatalista, e O Processo de Joana d’Arc, para além deste O carteirista. Em 1995, o cineasta recebeu o prémio René Clair, da Academia Francesa, pelo conjunto de sua obra cinematográfica.

Na verdade,  Robert Bresson, suplanta-se e aborda neste filme dois dos temas recorrentes no seu cinema, a culpa e a redenção. Sessão a não perder.

O Carteirista, Pickpocket no original, de Robert Bresson – trailer

 

Ficha técnica:

Título original: Pickpocket (França, 1959, 75 min.)
Realização e Argumento: Robert Bresson
Interpretação: Martin La Salle, Marika Green,
Jean Pelegri, Dolly Scal, Pierre Leymarie, Kassagi
Fotografia: Léonce-Henri Burel
Som: Antoine Archimbaud
Música: Jean Baptiste Lully
Montagem: Raymond Lamy
Produção: Agnès Delahaie
Classificação: M/12

 

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Categorias: Cultura

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