Guerra Colonial portuguesa, uma história por contar | ‘Deficientes das Forças Armadas – A Geração da Rutura’ (Guerra Colonial, 25 de Abril, Reintegração Social), da ADFA

Pub
No prefácio desta obra, o Professor José Eduardo Lourenço afirma:
“Para quem a não viveu… o que se chama viver implica defrontar-se a cada instante com a morte sem frases, essa tragédia africana e nossa é invocável.”
“A universalidade dolorosa do preço em sangue, sacrifício e mutilações dos nossos soldados (e famílias digo eu) merecia algo mais, como reparação pelo esquecimento a que durante longos anos foram votados.”
“… a ADFA …levou a cabo essa (a) memória do que não podia ser esquecido sem injustiça e grave pecado, ética e humanamente insuportáveis, para aqueles que o sofreram por cumprirem o que desde sempre foi exigido em nome de valores ou ideais dignos, ótica do tempo em que combateram, de consideração e respeito…”.
.
A Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA) refere na introdução o seguinte:
“ Este livro é um exercício da memória coletiva, para que essa memória não se perca; e é o resultado de um trabalho coletivo, para que essa memória seja fiel.”
“ Constituíram-se parte integrante de uma sociedade que, com o 25 de Abril, ajudaram a libertar e a tornar mais justa. Tiveram um percurso de vida, como Associação e individualmente, de que se orgulham, que deve ficar como um contributo para a reflexão sobre a face das guerras que a História tão zelosamente tem escondido.”
“…A Guerra colonial é aqui vista por aqueles que foram afetados no corpo e no espírito…é avaliada pelos que sentiram o seu efeito destruidor…passaram a valorizar mais a paz…é inscrita na memória coletiva por quem ficou autorizado a julgar os que deveriam ter evitado…”
“São denunciadas a ocultação…a marginalização dos deficientes militares… dadas a conhecer as tragédias pessoais e familiares num ambiente hostil à reintegração social… criação de uma Associação em que a deficiência seja um fator de exclusão… a organização de estruturas nacionais de apoio e reabilitação…”
”…Dar a conhecer as movimentações dos deficientes militares no período conspirativo que antecedeu o 25 de Abril…”
O livro está dividido em 16 capítulos e os seus conteúdos estão alinhados de acordo com a seguinte organização:
- O impacto junto da geração de jovens de 1961 a 1974:
Os efeitos emocionais da guerra, as políticas do Estado Novo e a ignorância política dos jovens e famílias, a sobrevivência física e emocional no contexto de guerra, vivências entre a vida e a morte, sofrimento e falta de esperança, outros efeitos pessoais e familiares (medo, saudade, incertezas…).
- O impacto na família e outros relacionamentos afetivos:
A preparação militar para a guerra, o conhecimento da mobilização, a despedida e a partida, a incerteza de ir e não voltar, os feridos do corpo e da alma e os mortos.
- A ADFA – A génese e o trajeto da sua História
Descreve o contexto da juventude e a sua iliteracia política antes do 25 de Abril, a preparação, a mobilização, a viagem e as vivências nesta guerra e as culturas da guerra. A vida e a morte e outros sacrifícios e violências. Os hospitais militares nas colónias, na metrópole e no estrangeiro. O impacto na família. A intervenção do deficiente de guerra antes do 25 de Abril. A génese da Associação e a importância do Palácio da Independência como 1º espaço utilizado como sede. A História da ADFA: as manifestações, as intervenções, a legislação produzida, a organização no território (Delegações), os objetivos, os congressos, as distinções públicas, a defesa dos valores (liberdade, paz e justiça), a luta pela plena cidadania e o jornal ELO como meio de divulgação das dinâmicas da ADFA
.
Considerações finais:
Esta obra contextualiza a geração dos jovens, das famílias e da sociedade portuguesa no período da guerra colonial. Dá a conhecer os aspetos ocultos desta guerra, sempre, contados na primeira pessoa (com depoimentos e testemunhos).
Um novo ciclo surge na vida da Associação: a nova sede e a sua importância na Associação, o “stress” de guerra (novo impulso) e o reconhecimento legal do deficiente de guerra. Os prémios e as distinções públicas e a importância do apoio público de personalidades. A criação do Centro de reabilitação. A participação em estruturas nacionais e internacionais. O apoio e reintegração profissional e a aposta no trabalho produtivo e no desporto. A luta pela cidadania dos deficientes. O relacionamento e cooperação com os ex–combatentes das antigas colónias. A luta pela inserção dos deficientes.
Afirma-se que os militares deficientes ou não de guerra são antigos combatentes/ lutadores que combateram pela sua pátria numa missão patriótica e com armas nas mãos.
Colaboraram (de várias formas) para o fim desta guerra e ajudaram a contestar e a derrubar o regime que a sustentava.
Com o final da guerra colonial, organizaram-se em Associação (em permanente luta) criando a ADFA para serem reconhecidos como tal e fosse produzida legislação que salvaguardasse a sua condição.
Organizaram-se para ser reconhecida a sua existência pela tutela militar, pelos políticos, pelas instituições e pela sociedade em geral.
Lutaram como Associação pela plena cidadania, pela formação profissional, pela reabilitação e integração.
Lutaram por todos os direitos em consequência da participação nesta guerra “como cidadãos iguais e nas mesmas condições de todos”.
Lutaram para que o Portugal Democrático reconheça todos aqueles que cumpriram o seu dever cívico e patriótico e voltaram deste conflito armado doentes do corpo e da alma.
Esta publicação que é aqui apresentada é o reflexo deste espírito de resistência, de luta e coragem dos antigos combatentes, deficientes ou não, de guerra.
Abordaram nesta publicação aspetos já conhecidos mas revelaram muitos outros que sempre foram ignorados (pela tutela), e ainda outros que sempre foram escondidos e negados contados na 1ª pessoa.
Tal como a Direção Nacional da ADFA indicou como justificação para a edição desta obra, era a mesma necessária, “Para que a memória não se perca, que tudo seja fiel… e por tal não deixar esquecer tudo o que foi vivenciado pelas famílias e os jovens da geração de 1961 a 1974, tudo o que passaram, viveram, presenciaram e sofreram originando marcas que carregam através dos anos desta guerra injusta…”.
Esta publicação é imprescindível e é obra de referência como fonte documental e de consulta, bem como, atesta a memória de todos os combatentes e em especial a vida e obra desta Associação e servirá para ajudar a escrever e a contar este período da História Contemporânea Portuguesa.
.
“Deficientes das Forças Armadas, a Geração da Rutura, Guerra Colonial, 25 de Abril, Reintegração Social.”
Autor: Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA).
Edições PARSIFAL
.
Se chegou até aqui é porque provavelmente aprecia o trabalho que estamos a desenvolver.
A Vila Nova é gratuita para os leitores e sempre será.
No entanto, a Vila Nova tem custos. Gostaríamos de poder vir a admitir pelo menos um jornalista a tempo inteiro que dinamizasse a área de reportagem e necessitamos manter e adquirir equipamento. Para além disso, há ainda uma série de outros custos associados à manutenção da Vila Nova na rede.
Se considera válido o trabalho realizado, não deixe de efetuar o seu simbólico contributo sob a forma de donativo através de multibanco ou netbanking.
NiB: 0065 0922 00017890002 91
IBAN: PT 50 0065 0922 00017890002 91
BIC/SWIFT: BESZ PT PL
Pub
Acerca do Autor
José Manuel Lages
Nascido em 16 de outubro de 1953. Coordenador do Museu da Guerra Colonial (Famalicão). Membro do Núcleo de Estudos de População e Sociedade da Universidade do Minho. Representante / Assistente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas. Colaborador do Boletim Cultural (Famalicão). Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e Mestre em História da Colonização Portugal / Brasil. Investigador da Guerra Colonial e emigração para o Brasil. Entre outros, recebeu o Prémio Padre Nuno Burguete, da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (2015) e a Medalha de Mérito Municipal Cultural (2017).
Comente este artigo
Only registered users can comment.