Sexualidade na Terceira Idade: factos, crenças e mitos

Sexualidade na Terceira Idade: factos, crenças e mitos

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A sexualidade na terceira idade é um tema tabu na nossa sociedade, vítima de mitos e crenças infundados, interferindo muitas vezes na qualidade de vida dos nossos idosos e na forma como eles próprios a vivenciam.

Todo o ser humano tem necessidade de se relacionar com os outros, de comunicar, de receber e dar apoio emocional e afetivo, de amar e ser amado, de viver momentos de intimidade com o outro, independentemente da idade.

A sexualidade é uma necessidade fundamental do ser humano, cuja dinâmica e riqueza deve ser vivida plenamente. Esta nasce, cresce e evolui com o ser humano, sendo por isso necessária para a realização plena de todos os indivíduos. O amor e prazer que daí se retira não terminam com o envelhecimento.

Nos últimos anos houve uma evolução relativamente ao conceito de sexualidade, percebendo-se que esta não se reduz ao ato sexual ou genital.

A Organização Mundial de Saúde define sexualidade como uma energia que nos motiva a procurar amor, contacto, ternura, intimidade; que se integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual; ela influencia pensamentos, sentimentos, acções e interacções e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental.

É óbvio que uma das grandezas da sexualidade é a relação sexual, porém, ela não se reduz a este acto, compreendendo a necessidade de contacto, ternura de intimidade, um conjunto de sentimentos, comportamentos e afetos.

Além da dificuldade em compreender o conceito abrangente de sexualidade, denota-se uma tendência em desvinculá-la deste período da vida. Como se, de um momento para o outro, esta dimensão desaparecesse, fosse lacrada da vida das pessoas. O idoso, como a criança, é analisado numa perspectiva assexuada, sem quereres, sem desejos, sem sentires, sem fantasias, sem expectativas.

Deparamo-nos frequentemente com discursos sociais que denunciam estereótipos negativos associados às pessoas de terceira idade, nomeadamente, que “não se interessam pela sexualidade” (Fernandes, 1996). Ora, se a sexualidade é uma parte essencial do relacionamento com os outros, particularmente no domínio amoroso, como é possível ponderar que na terceira idade não há espaço para amar, para ser amado, para sentir e para desejar? Esta atitude repressora da sexualidade das pessoas de terceira idade é muito patente nos adultos, principalmente nos familiares, que são um dos fatores que eternizam esta assexualidade.

A sexualidade na terceira idade é frequentemente vista e baseada em velhos estereótipos privados de significados, como também é associada a disfunção ou insatisfação. Os estereótipos de que as pessoas idosas não são atraentes fisicamente, não têm interesses por sexo ou são incapazes de sentir algum estímulo sexual, ainda são amplamente difundidos. Estes estereótipos, unidos à falta de informação, induzem as pessoas a uma atitude pessimista em tudo que se refere ao sexo na velhice.

A sexualidade expressa-se de diferentes formas nas múltiplas etapas do ciclo vital. Desta forma, a sexualidade é evidentemente vivenciada e expressada de diferentes maneiras na terceira idade, comparativamente com as restantes etapas.

Conforme refere Capodieci (2000, 231), “na idade avançada ama-se de maneira mais profunda, consegue-se purificar o amor da paixão que é mais sensual do que genital. Assim, para eles, um olhar ou uma carícia podem valer mais do que muitas declarações de amor”. É com estas palavras e expressões, bem mais espontâneas e autênticas que a sexualidade pode ser vivenciada pela pessoa e pelo casal nesta fase vital.

No entanto, o próprio envelhecimento fisiológico produz mudanças universais, afetando todas as pessoas que chegam à terceira idade.

Na mulher, há uma mudança no nível pessoal e social que se inicia entre os 48 e 51 anos que é a menopausa, ou seja o fim da menstruação e da função reprodutiva. Após este tempo, a mulher tem hoje, mais ou menos 25 anos pós menopausa onde não deve ser desprezada a sua sexualidade.

Com a menopausa as mudanças fisiológicas atróficas ocorrem na pele, mucosa genital e também há sintomas psicológicos como irritabilidade ou mudanças de humor, variáveis de mulher para mulher. As mudanças sexuais são mais lentas e progressivas pela diminuição na produção de hormonas femininas. A vagina diminui de tamanho e ocorre perda de elasticidade dos tecidos, que leva à diminuição da lubrificação vaginal resultando numa penetração mais dificil e dolorosa, podendo levar ao risco de infeção.

Efectivamente, a resposta sexual sofre algumas alterações, mas não desaparece. Em contrapartida, a situação pós menopausa, é vantajosa, não há o temor da gravidez, não despende tanto tempo para cuidar dos filhos e geralmente há uma libertação das inibições que atrapalhavam a sua vida sexual anterior.

No homem o processo de envelhecimento é diferente. Normalmente o homem não pensa que o seu tempo acabou. A produção de espermatozóides após os 40 anos é menor mas não totalmente ausente. Há redução da produção de testosterona, mas de forma lenta e pouco pronunciada. Há porém homens que desencadeiam crises com sintomas psicológicos como depressão, irritabilidade, falta de impulso sexual e queda dos níveis de testosterona.

Embora as doenças e a invalidez possam afetar a sexualidade, mesmo nas mais sérias condições não devem impedir que o indivíduo tenha uma vida sexual satisfatória.

Muitos homens sujeitos ao diabetes não tem problemas, mas é uma das poucas doenças que na realidade pode causar impotência. Dores articulares devido a artrite, podem limitar a atividade sexual. Tratamentos cirúrgicos ou medicinais podem aliviar as dores. Em alguns casos, os medicamentos podem diminuir o desejo pelo sexo. Exercício físico, repouso, banhos quentes e mudanças de posição durante o ato sexual, podem ajudar.

De facto, a sexualidade na terceira idade, parece estar mais associada à sua dimensão psicoafectiva pois, como salienta Vasconcelos (1994) “o sucesso conjugal na velhice está ligado à intimidade, à companhia e à capacidade de expressar sentimentos verdadeiros um para o outro, numa atmosfera de segurança, carinho e reciprocidade” e pode significar uma oportunidade de “expressar afecto, admiração e amor, a confirmação de um corpo funcional, aliado ao prazer de tocar e ser tocado”.

Se a sexualidade é uma esfera da vida tão importante em todas as fases do desenvolvimento, dando significado e segurança, maior segurança pode trazer às pessoas de terceira idade pois, perante um conjunto de perdas e riscos que esta etapa pode acarretar, mais necessário se torna termos alguém com quem partilhar as nossas angústias e ansiedades.

A postura social generalizada que caracteriza a terceira idade a partir de um conjunto de estereótipos, limitadamente críticos e privados de objectividade, distorcem a realidade dos indivíduos. A terceira idade tem sido objeto de múltiplas crenças, com a intencionalidade de homogeneizar todas as pessoas, ignorando a sua individualidade. Assim, a aceitação das representações sociais gerontofóbicas, contribui para que o idoso se acomode passivamente a estes rótulos, perpetuando a imagem que os próprios idosos têm em relação a si.

O sexo e o pleno exercício da sexualidade podem proporcionar muito mais do que prazer, significando auto-estima, pois sentir-se desejado é importante para pessoas de qualquer idade.

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Categorias: Comportamento, Sociedade

Acerca do Autor

Tânia Marisa Silva

Gerontóloga Clínica. Especialista em Envelhecimento e Saúde Mental.

Comentários

  1. Anónimo
    Anónimo 4 Maio, 2018, 23:24

    Muito interessante, concordo e devia ser lido por muito homem e mulher, que se dizem acabadas para o amor….
    Se a mulher muda com os anos, o homem também…e são vivências novas para os dois….
    Cada fase da vida é um descobrir novo….

  2. Anónimo
    Anónimo 5 Fevereiro, 2018, 18:45

    Concordo plenamente com a totalidade do artigo.

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