Ricon: o fim (à vista) de um sonho

Ricon: o fim (à vista) de um sonho

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Logo no dia 30 de janeiro, data indicada para o início das Assembleias de Credores liquidatárias do Grupo Ricon e para os trabalhadores não se apresentarem ao trabalho ao início da manhã, quando se telefonava para a Ricon podia ouvir-se a seguinte mensagem telefónica:

Mensagem telefónica:

This message will follow in english.

Estamos encerrados. Por favor, contacte-nos de segunda a sexta-feira das 9h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00. Obrigada.

Apesar de tudo, de todo o drama causado pelo encerramento da Ricon e da tensão que situações deste género fazem habitualmente vir ao de cima, no geral, o ambiente em Ribeirão e Vila Nova de Famalicão não parece ser de catástrofe. Em torno da principal unidade industrial, nota-se tensão nos rostos, mas não o desespero. Os tempos, felizmente, são de feição a perspetivas e pensamentos positivos, de que tudo há de correr bem ou pelo melhor.

Mas é ainda muito cedo e a época é de frio. Se não aparecer um comprador para todo o ativo imobilizado da empresa com vontade de aproveitar as condições existentes, de bom conjunto de edifícios, máquinas, equipamentos, entre outros, e a maioria do quadro de pessoal, estas gentes que aqui trabalham irão sentir bem maiores dificuldades, irão penar bem mais, porque, por aqui, não abunda trabalho. Haver, há! Mas em pequenas empresas que não terão provavelmente capacidade para absorver tanta gente.

Ricon na primeira pessoa

Recordo, neste momento, uma curta história pessoal que referi, informalmente, a um dos agora ex-funcionários da Ricon, de seu nome Valter Costa. Entramos à conversa. Todos os presentes estavam ali para esse efeito, para falar, escutar, fotografar, filmar “a questão Ricon.”

Ao início da manhã de ontem, alguns de entre eles, sobretudo mulheres, encontravam-se à entrada da empresa, junto à portaria, uns quantos mais, na receção dos escritórios, revezando-se. Objetivo: proteger o património existente até que todo ele fosse devidamente registado – o imobilizado já o está, a matéria-prima e obra em confeção e acabada ainda não – e convém que não sejam indevidamente retirados dessa lista, pois poderão ajudar a garantir salários.

Valter, tranquilo analista de sistemas vestido na sua camisola Gant de cor forte, aguardava o momento de ser entrevistado pelo JN ali mesmo à entrada da fábrica. Indignado sobretudo pelo precipitado encerramento da empresa e o facto de não ter sido dado tempo suficiente para ser encontrada uma solução alternativa que permitisse a sua eventual viabilização, Valter desfiava os seus pontos de vista sobre as dificuldades da empresa, as questões colocadas em Assembleia de Credores e as perspetivas para o futuro. Esta narrativa, um curto aparte na nossa conversa, que ele acabaria por surgir a propósito de quem pouco ou nada tem a sofrer com as pressões das empresas financeiras, contrariamente àqueles a quem tudo sobra que, quando ficam a dever, raramente têm, ou parecem ter, qualquer tipo de preocupação com as dívidas que contraem e mal nenhum lhes vem ao (seu) mundo por essa mesma razão.

Vila Nova Online | Pedro Costa - Ricon 2, história e histórias

“Ontem, de manhã, acordei de forma nada habitual.

O meu despertador é a minha mulher. Ou melhor, o som que ouço quando ciranda no quarto a preparar-se após o chuveiro matinal. Deixei de ouvir o despertador há muito tempo. Levanta-se sempre antes de mim, como tantas outras mulheres o fazem antes dos seus maridos. Há sempre quefazeres mais vastos numa casa antes da saída para o trabalho, isto para além de trabalhar mais longe de casa.

Mas ontem acordei de forma estranha. Com o som do telemóvel a chamar. E eu, descontraído na minha vida, a descer Rua Adriano abaixo.

Trrim-trrimm! Trrim-trrimm!…

– Estou! Pedro Costa.

– Boa tarde! Fala… (não me recordo do nome). Estou a ligar-lhe da… (não me recordo do nome da financeira, ou sequer se havia sido dito. O senhor tem aqui um débito. Poderia passar pelas nossas instalações para regularizar a situação? Logo que lhe seja possível.

Fiquei surpreendido. Não me recordava de ter qualquer débito em financeira alguma. Há anos que deixei de contrair empréstimos. Nisso, como em outras coisas, a crise foi boa aprendizagem.

Mas o certo é que estava ali mesmo! À porta. A financeira tinha o seu escritório ali mesmo, no 1º andar do Edifício Alto Ave – recordo que em tempos a Sofinloc teve lá um escritório, mas, agora, não se tratava da Sofinloc.

Entrei e subi ao 1º piso. Procurei as instalações da empresa. Descobri-as de imediato. Entrei e, mal acabara de passar a porta de acesso, sou recebido com muita simpatia. Imensos sorrisos.

– Sr. Costa. Possui aqui um débito de 20 cêntimos, referentes a um acerto que ficou por regularizar.

Nessa altura, acordei. E lá estava a minha mulher, com o seu resplandecente sorriso de quase todos os dias.

Que alívio! Fiquei bem mais tranquilo e pronto para encarar o dia.”

 

Não sei se este sonho se terá porventura ficado a dever ao facto de ter passado os últimos dias a ouvir e, de certo modo, viver as dificuldades com que estas centenas de famílias famalicenses se confrontam neste momento. É, no entanto, certo que aconteceu. E nunca sonho com estas coisas; ou, pelo menos, não me recordo. Além disso, esta  narrativa reflete bem o que tantos de nós vivemos e pensamos das dívidas de milhões que entalam homens de tostões.

Vila Nova - Famalicão Online - Ricon, o fim de um sonho

 

A história da Ricon é narrada de forma simples, tal como simples são as pessoas que a contam, sob anonimato, há que o dizer. Estes patrões não serão novamente seus patrões, mas o receio de eventuais escolhos em futuras seleções para empregabilidade soa mais alto.

Seja como for, pessoas simples contam histórias simples como elas. A história da Ricon, do seu nascimento ao atual encerramento e (alguma) incerteza quanto ao futuro, é contada em tom de boa disposição por gente que vive há muitos anos dentro da empresa. Não sendo quadros superiores, tem o conhecimento próprio de quem está lá dentro. Tristezas não pagam dívidas e é melhor olhar o amanhã com boa disposição. Além disso, sobra a impressão de que o drama não é tão avassalador assim. Mesmo da boca dos políticos e sindicalistas, que também escutamos, raramente perpassam palavras agastadas.

“A Ricon é uma empresa que começou a partir do 0 (zero). O Sr. Américo Silva”, comercial das Malhas Minho, uma empresa que foi também de referência em Famalicão, por representar a Benetton, “em parceria com o Sr. Abel Serra, contabilista e seu cunhado, resolveram lançar-se na aventura de montar uma empresa de confeção nos anos 70.” A nova empresa terá recorrido, no início,  à contratação de diversas costureiras da empresa de Abílio Lima, industrial da região.

“A Ricon cresceu através de vendas a clientes de média dimensão. Mas o Sr. Américo era um visionário. Queria mais! Por isso, começou a tentar captar uma grande empresa, a Gant, para seu cliente, o que viria a conseguir numa altura em que esta também pretendia deixar o fabrico em Itália.

“Após o 25 de Abril, os sindicatos tentaram boicotar a gestão da empresa. A empresa deixou de aceitar trabalhadores sindicalizados desde então. Quem fosse sindicalizado era de imediato cortado da lista; por isso, hoje, não temos ninguém sindicalizado. Ao que parece, terão sido sindicalistas os causadores de um incêndio no apartamento do Sr. Américo, em Esposende, nesse período de grande agitação que se seguiu à Revolução.” No entanto, o Sindicato do Vestuário, Confecção e Têxtil da Região Norte, pela voz de Elisabete Gonçalves, contrapõe que na Ricon existem trabalhadores sindicalizados, mas são poucos. Trata-se de escolhas dos próprios trabalhadores. É uma questão cultural” – no norte de Portugal, em especial, boa parte das populações são avessas aos sindicatos e têm-nos em fraca opinião – “e, até, de uma questão monetária. O sindicato é uma associação. A associação tem sócios e cada sócio paga a sua quota. A maior parte das pessoas não quer pagar uma quota mensal pois penaliza o seu orçamento familiar. Seja como for, lutamos por todos e muitas das regalias dos trabalhadores são conseguidas pelos sindicatos.”

Continua quem o conheceu de perto: “O dia-a-dia do Sr. Américo, ao longo de muitos anos, começava sempre da mesma forma. Ele chegava, pousava a pasta, tirava o casaco e, de imediato, seguia para a confeção, onde cumprimentava os encarregados. Depois, seguia para o escritório” e, a partir de lá, dava seguimento ao dia.”

Nesse tempo, “havia muita comunicação com os empregados. O Sr. Américo estava sempre próximo dos funcionários. Dava conhecimento do andamento da empresa e ouvia o que estes tinham para lhe dizer.”

“A parceria com a Gant foi o que projetou a empresa”, o que a fez dar o grande salto em frente ao garantir 60 a 70% da produção. A empresa teve entretanto que efetuar grandes investimentos para fabricar blasers, mas com a produção assim garantida havia margem de segurança para o risco que se corria.

“Depois de o negócio ter sido transferido da Itália para Portugal, o Sr. Américo e o Sr. Stephen, o representante da marca com quem Américo Silva lidava, eram então, grandes amigos.” Por essa altura, a empresa recebia encomendas de 14000 a 15000 peças.

Entretanto, “talvez por questões relacionadas com saúde, mas talvez também com a ideia que pretenderia transmitir da imagem de um empresário moderno, há cerca de 21 anos atrás o Sr. Américo transferiu a gestão da empresa para os seus dois filhos, Pedro e Rui. Passou a ser uma espécie de conselheiro ou consultor geral e deixou de ir à fábrica. Enquanto os filhos o ouviram, a Ricon continuou a funcionar bem.

Com a herança da gestão, o Sr. Rui Silva, gestor de formação, tomou conta da parte da confeção, o que incluía a produção para a Gant, e o Sr. Pedro Silva, sem formação superior, geria a licença de distribuição dessa marca em Portugal.

Quanto à Decénio, a marca própria do grupo, esta nunca terá dado grande lucro à empresa. As vendas ficaram sempre abaixo do estimado ou pretendido. Rentabilizava-se, de certo modo, o saber fazer dos funcionários e a estrutura existente.

A Gant dava imenso lucro.

O que veio a estragar tudo foram os negócios de automóveis e aviões, em que não houve retorno. Por outro lado, o próprio Sr. Pedro Silva parecia não olhar pela vida.

Enquanto a gestão era efetuada pelo Dr. Rui, as coisas rolavam mais ou menos bem. Quando os irmãos se desentenderam nos negócios, o Sr. Pedro assumiu a liderança da empresa, mas teve de pagar ao irmão a respetiva parte”, 38,5 milhões de euros, declarou o próprio ao Jornal T, em grande medida financiada com os lucros da venda da participação na Gant internacional quando esta foi adquirida pelo grupo rival Lacoste.

“A partir de então, o Sr. Pedro agiu sempre sem ouvir ninguém, sempre pela sua própria cabeça.

O Sr. Pedro Silva nunca deu valor à antiguidade das pessoas. Diversos funcionários com responsabilidades dentro do Grupo Ricon, tais como diretores comerciais e encarregados de secção, descontentes com a situação, foram-se indo embora dizendo que ele nunca queria saber dos problemas e o administrador desse importância ao caso. As encarregadas mais abaixo na estrutura da empresa eram zero para ele. Nunca teve humildade. A opinião dos trabalhadores sobre os quadros técnicos acima na hierarquia ou a empresa valia zero.”

Assim, segundo nos contam, era frequente ouvir:

“Só quer fazer à maneira dele! O que faz falta e o que não faz.

Ainda hoje – e embora a empresa tenha bons clientes -, até aos clientes olha e fala de forma superior.

Contrariamente ao Sr. Américo.”

De forma um tanto despudorada, reforçam os comentários:

“A Ricon caiu-lhe do céu. Achava que era o maior. Comprava casas conforme lhe apetecia. Comprou uma em Esposende para logo de seguida se mudar para a Foz, para o jet-set.”

Segundo consta, “a parte das receitas da distribuição, altamente lucrativa, não estava a ser paga atempadamente.”

O Grupo deixou de produzir para a Gant e, “embora estivesse a conseguir captar novos e recuperar antigos clientes, com bons níveis de produção, começou a haver falhas com clientes e prazos, os fornecedores de tecidos passaram a ser pagos a 90 dias, o que nunca tinha acontecido.

Começaram então a faltar encomendas e os clientes a exigir indemnizações. As grandes encomendas desapareceram. Há 10 anos atrás nunca seriam aceites encomendas de 200 a 300 peças; agora chegavam a ser aceites encomendas de 20 a 30.”

Reforça-se a expressividade:

“Tanto vale!

Ao fim do dia, a produção desce completamente. Má gestão!” Os deputados do Bloco de Esquerda refeririam idêntica opinião defendendo que a gestão seja investigada.

Para além da queda de encomendas e das dificuldades de tesouraria, “foram admitidos gestores que nada percebiam do setor têxtil. Por muito que os operários mais antigos dissessem como devia ser, os novos gestores não os ouviam. O facto de não haver cultura (académica) não significa falta de conhecimentos. Nestes setores, com muita mão-de-obra, é preciso ouvir as gentes com experiência.”

Em determinada altura, “o Sr. Pedro entrou em negócios que não percebia e afundou o Grupo. Os próprios diretores o diziam.”

Segundo nos referiram, Pedro Silva terá dito que “os salários seriam pagos integralmente e tudo o que pudesse fazer seria para dar aos funcionários”. No entanto, em tom de brincadeira, ouvimos perguntar: “Mas como vai ele pagar se não tem funcionários para processar os salários nem dinheiro para os pagar?”

Quanto a isso, os trabalhadores administrativos já se terão entretanto pronunciado afirmando que fariam esse trabalho mesmo sem ganhar. Uma onda de solidariedade atravessa os trabalhadores do Grupo. Esta permitirá a eventualidade de todos receberem os salários em dívida, apenas de janeiro, uma vez que embora apenas a Delvest possua liquidez, os trabalhadores desta empresa não se oporiam à transferência de verbas para outras empresas da Ricon na exata medida de cumprir esse intuito. Há, no entanto, que aguardar a decisão do administrador judicial, Pedro Pidwell, ele, o homem que tem a última palavra em relação a todo este processo.

Quanto ao futuro, ouvimos dizer, de forma desesperançosa, talvez por estarmos ainda a viver os momentos de ressaca inicial após o encerramento da Ricon, que “as mulheres que aqui trabalharam terão poucas hipóteses de arranjar trabalho. São várias as empresas encerradas: Delos e Delcon (em Fradelos), mais as de Ribeirão e Penafiel. Por aqui só há pequenas empresas. A esperança é que alguém compre o património e ative uma empresa. Há fé que possa reabrir.”

Para além disso, recordam:

“A Ricon dava regalias aos seus trabalhadores como poucas empresas o fazem.”Para além de nunca ter havido notícias de atrasos nos salários, com exceção feita aos tempos mais recentes, a empresa proporcionava “miminhos” sociais aos trabalhadores: enfermeiro permanente, laboratório de análises, médico, transportes.”

Acrescente-se ainda o verdadeiro “bodo aos pobres” que a empresa fazia, aqui há uns anos, em vendas ao desbarato, nas épocas de Natal, das sobras e devoluções, o que permitia a funcionários, seus familiares e amigos poderem vestir vestuário de excelente qualidade a preços irrisórios. As filas que se formavam por essa época, para entrar nos armazéns, eram gigantescas.

Queixam-se apenas de, nestes últimos anos, a Ricon abusar “um pouco do banco de horas. Não eram bem pagas. Por vezes, os trabalhadores perderam o direito às remunerações das horas extra.” Mas também, “para quê criar conflitos se não há nada tão bom para onde ir?” Além do mais, reconhece-se que na Ricon havia muito bom ambiente de trabalho”, feito de camaradagem ao longo de muitos anos.

Na Ricon há bastante gente com antiguidade, mas não existem muitos casais. Os casais que existem têm cerca de 50 anos ou mais. Onde arranjarão emprego com esta idade? “Provavelmente só fazendo outro tipo de trabalho com menor rendimento.”

Nesta situação, “há que contar com os encargos permanentes dos filhos a estudar, adolescentes ou jovens universitários, mais a casa. A única mais valia são 10% adicionais no subsídio de desemprego.”

A terminar, dizem-nos que “há fé na reabertura. A empresa está em bom estado, bem apetrechada, bem cuidada e é muito especializada, por exemplo, usa laser para corte e fabrico posterior de blusões. Trabalha para as melhores marcas: Max Mara, Carolina Herrera, Massimo Dutti, Pedro del Hierro, Hackett, Zadig Voltaire, Daniel Cremieux, Brooks Brothers e outras mais bem conceituadas e conhecidas no mercado. A empresa está muito bem cotada.

Pedro Pidwell, o Administrador de Insolvência, tem vindo a referir publicamente que a melhor solução para a empresa seria vender tudo por atacado a um grupo que tivesse interesse em ali desenvolver atividade económica. “Fala-se na TMG como uma  possível compradora”, refere-se; mas trata-se apenas de especulação – quase – em estado puro.

Para chegar esse momento, falta apenas serem realizadas as duas últimas assembleias de credores de entre as oito necessárias para a liquidação final, o que se adivinha tão certo quanto a noite se seguir ao dia.

Vila Nova - Famalicão Online - Ricon, o fim de um sonho

 

Políticos e políticas

Casos dramáticos como este motivam sempre a intervenção e presença mais ou menos direta dos políticos e instituições políticas locais e regionais ou até mesmo nacionais.

A autarquia famalicense, conforme indicamos em Ricon | 30 de janeiro de 2018. A Ricon encerra as suas portas, referiu de imediato que seria lançada uma linha de apoio especialmente dirigida aos trabalhadores da Ricon e seus familiares.

Vila Nova - Famalicão Online - Ricon, o fim de um sonho (imagem: arquivo de Adelino Oliveira)Por seu turno, a Junta de Freguesia de Ribeirão, pela voz do seu presidente, Adelino Oliveira, aludiu à “profunda preocupação” com que vê “o encerramento da Ricon, empresa histórica da freguesia.”

Afirmou ainda que “a Junta de Freguesia estará sempre na primeira linha, na medida do que estiver ao seu alcance, da ajuda às famílias dos trabalhadores agora desempregados – a maioria são da freguesia, mas há também bastantes das freguesias à volta, como Fradelos e Trofa, por exemplo, a atravessar dificuldades.” No imediato, aliás, “a Junta de Freguesia disponibilizou as suas instalações para quem pretenda recorrer a serviços de apoio jurídico, uma vez que será porventura mais fácil, atendendo às questões de proximidade, as pessoas envolvidas deslocarem-se à Junta de Freguesia se os seus advogados assim o entenderem.”

Adelino Oliveira lamenta “este encerramento, porque deixa em grande constrangimento muitas pessoas, algumas com mais de 20 anos de dedicação à empresa, em alguns casos até bastante mais, ou que têm 50 e mais anos de idade, gente essa a quem será mais difícil encontrar trabalho no imediato.” Na sua opinião, há em Ribeirão, ou nas suas zonas limítrofes, alguma oferta de trabalho na área da confeção, mas a oferta é escassa para um problema com esta dimensão”, considerando que “talvez a situação seja um pouco mais fácil para aqueles que se encontram já próximo da idade da reforma.”

Em complemento, Adelino Oliveira adita que, “tanto quanto se sabe, a empresa teria encomendas até há pouco tempo atrás, pelo que laborava continuamente apesar das dificuldades financeiras que já se fariam sentir. Mas, quanto a isso, na verdade quem conhece a situação exata são os empresários e administradores da Ricon.”

Vila Nova - Famalicão Online - Ricon, o fim de um sonho (imagem: logotipo)

Por seu turno, Rui Faria, o novo líder da Concelhia de Vila Nova de Famalicão do Partido Socialista, que amanhã mesmo toma posse, declarou que “uma delegação do partido, constituída pelo próprio, Nuno Sá, Célia Menezes e Sá Machado, se encontrou com os representantes dos trabalhadores da empresa e a Diretora de Recursos Humanos. Nesse encontro, puderam averiguar das razões do encerramento da empresa, tendo tido acesso ao Relatório de Contas de 2016, mas não ao de 2017, ainda por encerrar.”

Nesse encontro, os socialistas demonstraram disponibilidade para auxiliar a encontrar soluções no quadro disponível ao seu alcance, nomeadamente junto do Governo”, tendo entretanto sido agendada nova reunião para a próxima segunda-feira, desta feita entre os deputados distritais do partido e representantes da Comissão de Trabalhadores e outras entidades, de modo a ver quais as ambições dos trabalhadores no sentido de uma eventual reestruturação.

O Partido Socialista, manifestando a maior solidariedade para com os trabalhadores afetados e respetivas famílias, considera o despedimento dos trabalhadores do Grupo Ricon “uma perda significativa para o concelho de Vila Nova de Famalicão e para os Famalicenses” e que o encerramento do grupo têxtil significa “um duro revés” para os mesmos e seus agregados familiares, bem como um marco negativo no dinamismo empresarial que caracteriza o nosso concelho.”

Considera este partido político que “o drama do desemprego e as consequências sociais do mesmo são, desde sempre, preocupação maior” do PS e que o atual Governo, através do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, “tem desenvolvido um conjunto de políticas sociais direcionadas para a proteção no desemprego, protegendo os trabalhadores afetados e criando condições para uma mais rápida e eficiente reinserção no mercado de trabalho.” Assim sendo, “também os trabalhadores do Grupo Ricon poderão contar com os programas, já em curso, e apoios especialmente direcionados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional e pela Segurança Social, através dos serviços presentes em Vila Nova de Famalicão, e que permitirão aos mesmos ter uma resposta concreta às necessidades emergentes da situação de desemprego e devidamente enquadrada para cada situação particular.”

O Partido Socialista não deixa ainda de acrescentar que “a reconhecida especialização e alta capacidade de desempenho dos trabalhadores da indústria têxtil no concelho de Vila Nova de Famalicão” serão, uma garantia de que estes trabalhadores encontrarão novas oportunidades de emprego.

Vila Nova - Famalicão Online - Ricon, o fim de um sonho (imagem: arquivo Bloco de Esquerda)

 

O Bloco de Esquerda foi outro dos partidos cujas movimentações na empresa se fizeram sentir. Os seus deputados Pedro Soares, por Braga, e José Soeiro, pelo Porto, deslocaram-se à sede da Ricon.

“A grande preocupação dos trabalhadores é a manutenção dos postos de trabalho. Temos uma resposta do Governo, do Ministério da Economia, dizendo que se iam empenhar na manutenção da laboração da empresa”, indica Pedro Soares, acompanhados por elementos da sua estrutura local, como José Luís Araújo e Adelino Mota.

“Os trabalhadores só não estão a trabalhar porque foram despedidos”, reforça, uma vez que, tecnicamente, ainda o poderiam estar a fazer.

Referindo a história da empresa, afirmou que “a Ricon é uma empresa que trabalha há muitos anos, tem um corpo produtivo muito influente, trabalhadores especializados, que fazem bem, executam bem, com elevado prestígio no mercado do vestuário.” Pedro Soares salientou ainda que esta é “uma empresa fundamental para a economia do país, da região, para os trabalhadores desta fábrica e das suas famílias, mais os trabalhadores indiretos que dependem desta empresa, para que se consiga manter a laboração.”

Assim, deixou clara a vontade de fazer um esforço “junto do Governo, junto do Ministério da Economia, tanto na Assembleia de Credores como através de outros mecanismos que têm influência no setor para podermos garantir que haja financiamento, alguém que compre a empresa e consiga responder às solicitações do mercado para a mesma”, acrescentando ser esencial garantir “os direitos destes trabalhadores.”

Pedro Soares ressalta, com críticas contundentes, a “evidência de gestão danosa nesta empresa” e que o  Ministério Público deveria intervir. “É preciso investigar. É preciso que estes patrões, que não têm em conta as suas responsabilidades económicas e sociais, inclusivamente não têm em conta o que significa perder 800 postos de trabalho, sejam chamados à responsabilidade.”

O deputado do BE dá ainda relevo a “notícias de transferências de milhões de euros entre empresas, de descapitalização e envio de milhões de euros para fora do Grupo.”

Por último, Pedro Soares regressa à História da indústria têxtil do vale do Ave, recordando que “este fado que os trabalhadores do vale do Ave têm tido de longas décadas de salários baixos, de patrões que não têm em conta as suas responsabilidades e que depois evoluem para ser os trabalhadores a pagar estes dislates desses patrões” deve ter um fim, esperando que haja “uma mudança e uma alteração em relação a esta situação.”

José Soeiro, o outro deputado bloquista também presente, em jeito de conclusão relembrou que “este é mais um caso de uma empresa vítima de uma gestão que descapitalizou a empresa e que parece estar a recorrer a uma insolvência com contornos fraudulentos. O que temos vindo a assistir é à utilização destes mecanismos, lesivos da economia e dos trabalhadores.”

Na próxima segunda-feira, dia 5, pelas 15h30, Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, deslocar-se-á também à Ricon, na companhia de Pedro Soares, para se encontrar com os trabalhadores da empresa.

Vila Nova - Famalicão Online - Ricon, o fim de um sonho (imagem: arquivo Bloco de Esquerda)

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Imagem de destaque: À espera do fim (Pedro Costa).

Outras imagens: Valter Lemos (Pedro Costa); Acesso à Ricon (Pedro Costa); Trabalhadoras à conversa com jornalista (Pedro Costa); Adelino Oliveira (arquivo de Adelino Oliveira); Logótipo do Partido Socialista (Partido Socialista); Pedro Soares e membros do Bloco de Esquerda à conversa com trabalhadores (arquivo do Bloco de Esquerda); Trabalhadores em piquete nas instalações da empresa (arquivo do Bloco de Esquerda).

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