Entrevista | João Pedro Castro. Estórias de vidas de uma Villa

Entrevista | João Pedro Castro. Estórias de vidas de uma Villa

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Ninguém!” – assim se autodefine João Pedro Castro, citando Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, quando indagamos, a breve título de introdução, quem é o homem por trás de Estórias de Villa, o filme que tem vindo a ser rodado em diversos locais da cidade e do concelho de Famalicão.

E acrescenta: “As transformações estão a cargo do mais plebeu dos homens”. Esta é a sua convicção mais profunda, de tal modo marca a sua personalidade e a sua vida. Em permanência “inconformado”, o realizador deste filme diz-se também “discreto”.

Mas será assim?

Vila Nova - Famalicão ONline - João Pedro Castro - Entrevista Estórias de Villa . AECCB

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Para darmos a conhecer melhor o nosso entrevistado, resolvemos então ouvir alguns dos seus amigos de longa data: Márcia Santos, Jorge Vale e Vasco Pereira.

Todos foram unânimes em reconhecer que João Pedro Castro é empreendedor e inovador, culto e inteligente, bem como possuidor de um humor requintado.

Como empresário de Hotelaria, João Pedro Castro abriu e/ou geriu diversos bares em Famalicão, todos eles com reconhecido sucesso. Do Mamma Mia ao Tipografia Bar, passando pelo Puros e pelo Classe, foram vários os locais onde os notívagos famalicenses se puderam agregar e confraternizar ao longo dos últimos anos. Alguns desses bares ainda hoje funcionam, notadamente o Classe, com grande êxito ainda nos dias de hoje.

Márcia Santos, observando que o projeto Estórias de Villa “é muito enriquecedor e um tributo à cidade”, acrescenta que João Pedro, mesmo sendo “um aventureiro por natureza, é um homem por todos respeitado.”

Por seu turno, Jorge Vale, “amigo de sempre e para sempre”, salienta “o espírito inquieto, sempre a fervilhar com novas ideias”, como é o caso destas Estórias de Villa. Refere ainda, em tom de brincadeira, o sucesso entre as mulheres. Qualificando-o de “pioneiro e visionário”, recorda que foi com ele que viu nascer o Carnaval de Famalicão.

Conclui: “Está sempre um bocadinho à frente. A vida torna-se muito mais colorida e os sentidos mais apurados para quem tem o privilégio de privar com ele diariamente.”

Vasco Pereira, embora nem sempre tenha privado com João Pedro, por viver alguns anos fora da cidade, salienta a sua “integridade e experiência de vida única, muito rica e multifacetada no plano profissional, tendo enfrentado aventuras e desafios que não estão ao alcance de qualquer um.”

Referindo-se concretamente a Famalicão, que se recorde, João Pedro Castro “é o primeiro a ter a coragem de fazer um filme, com recursos extremamente limitados e atores sem experiência ou formação, à volta de uma história que retrata alguns problemas sociais e facetas da nossa cidade e do país.”

Destacando a sua enorme “capacidade de improviso”, associada ao humor particular por todos referido, conta uma pequena história em que repõe a história do nascimento do Carnaval de Famalicão, relembrando que “as famosas festas no Clube dos Caçadores” foram a base do atual Entrudo. “Depois do clube dos Caçadores, a nossa geração começou a brincar e a celebrar o Carnaval em dois cafés-bar que fizeram história:o Casanova e o Dom Camilo, localizados frente a frente na Alameda Luís de Camões, a rua onde supostamente tudo começou.”

Nesse Carnaval, em particular, ocorreu “uma cena digna de Hollywood”. Por esse tempo, “a rapaziada juntava-se na rua em frente a esses dois cafés e bebia o seu copo, ou num local ou noutro. No Casanova, inclusive, o Sr. Óscar retirava todas as mesas para se poder circular livremente e sem atropelos. Já havia competição entre os amigos – naquele tempo toda a gente se conhecia, pois todos tomávamos café no mesmo sítio -, para ver quem vinha melhor mascarado, ou qual era a máscara mais engraçada. E, nesse dia, eis que surge o João Pedro (JP), extremamente bem mascarado de Zorro, montado num cavalo. Foi um momento hilariante. No entanto, apesar de ter elevado a fasquia das máscaras para um patamar superior, o JP tornou-o impossível de alcançar quando resolveu entrar no Casanova de cavalo. De tanto rir, levou toda a gente às lágrimas. Ver o JP a entrar no Casanova, em cima de um cavalo enorme, vestido de Zorro, dar a volta ao cavalo lá dentro e sair como se nada fosse, para além do olhar incrédulo de todos e do próprio Sr. Óscar disfarçado de GNR, foi das cenas mais divertidas da minha vida e que nunca esquecerei.

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Vila Nova - Famalicão ONline - João Pedro Castro - Entrevista Estórias de Villa . AECCB . filmeTomámos conhecimento da rodagem de Estórias de Villa, de certo modo, casualmente. Aqui há uns meses, pouco tempo depois do nascimento da Vila Nova, recebemos uma chamada de João Pedro:

“Pedro, gostava que participasses num filme que estou a rodar. Podíamos tomar um café e conversar sobre o assunto.”

Cheguei a pensar que o João Pedro estivesse confundido. Eu próprio o fiquei. Numa das escolas em que trabalhei existe um colega com um nome semelhante, esse sim efetivamente ligado ao teatro. Mas não, a chamada e o convite eram-me mesmo destinados.

Lá tentamos agendar o encontro, mas, por uma razão ou por outra, o café foi sendo adiado. A participação no filme ficou sem efeito, mas ficou desde logo em mente o propósito de que, pelo menos, esta entrevista se viesse a realizar. Afinal não é todos os dias que temos um famalicense a rodar uma longa-metragem, mais a mais em Famalicão e recheada de grandes atores da terra.

Vila Nova - Famalicão ONline - João Pedro Castro - Entrevista Estórias de Villa . AECCB . filmePedro Costa: Como surgiu a ideia de realizar este projeto, estas Estórias de Villa? Quem é o autor do argumento?

João Pedro Castro: A ideia do filme foi sendo arquitetada em simultâneo com a escrita da história. De início, comecei a escrever um livro contando histórias contemporâneas, baseadas em pessoas e factos, ou situações, que conheço ou vivo. Na verdade, para ser mais preciso, antes mesmo de ter concluído todo o enredo, achei que teriam mais interesse adaptar esta narrativa a um eventual projeto cinematográfico. A partir de então, o processo de transformar estas Estórias em filme começa a tomar forma. Creio que a narrativa acaba por resultar melhor assim, como filme. Além disso, trata-se de uma saga que dá para desenvolver.

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Pedro Costa: Em algumas palavras, que narrativa é essa que está por detrás das Estórias de Villa? Quem são os protagonistas que a vivem?

João Pedro Castro: Estórias de Villa descrevem e retratam a realidade de um conjunto de protagonistas de meia-idade, numa simbiose entre o trágico e o cómico, afinal inevitabilidades da própria vida. No filme, vai ser possível detetar com alguma facilidade uma série de situações em que todos nos identificamos, numa perspetiva política e social. De facto, são banalidades quotidianas associadas a um certo “elogio da loucura.”

Os protagonistas são ilustres anónimos, sem qualquer experiência de representação, que se predispuseram a dar o seu contributo a este projeto. Como facilmente se depreende, o argumento é da minha autoria.

Pedro Costa: O universo que se encontra patente neste filme é de tipo intimista ou, pelo contrário, extrovertido? O guião tem sido sempre mais ou menos seguido ou surgem constantes improvisos?

João Pedro Castro: Desde o início do projeto, ficou determinado que não teríamos obsessão por nenhum modelo em particular; também não procuramos nenhum tipo de originalidade. Na verdade, estará mais perto da extroversão do que da intimidade, apesar de considerar que algumas mensagens transmitidas são suficientemente poderosas para tocar no íntimo das pessoas. O guião tem sido suficientemente respeitado, apesar de algumas alterações forçadas pelas circunstâncias.

Pedro Costa: Assim sendo, consideras que este teu filme não se pode integrar nas novas tendências do cinema português, ou melhor, dito de outra forma, poder-se-á enquadrar o Estórias de Villa num género de cinema de autor em que o teu olhar individual e uma determinada visão do mundo marcam o filme? De que forma?

João Pedro Castro: Estou em crer que, no final, o filme terá um estilo próprio, mas será sempre um filme produzido no norte, por gente do norte de Portugal. Uma eventual tendência faria com que tivesse uma redobrada dificuldade em impor-se. Sempre foi assim.

Pedro Costa: Quais são as emoções que pretendes pôr a descoberto neste filme?

João Pedro Castro: Não tenho, nem nunca tive, certezas quanto a emoções. No entanto, asseguro algumas “discussões” sobre materialismo, casamento, paixão, ou falta dela, e outras coisas mais.

Pedro Costa: Qual é o teu papel nas Estórias de Villa: apenas realizador ou és multifunções?

João Pedro Castro: Sou pau para toda a colher. Já sabia que ia ser assim.

Pedro Costa: Já tiveste alguma experiência prévia como realizador? Se sim, qual ou quais?

João Pedro Castro: Em cinema, não. Tive várias experiências na organização de espetáculos de dança e respetivas coreografias, bem como festas temáticas, ao tempo em que fui gerente da Kadoc, no Algarve, aquela que era, nos anos 90, a maior discoteca de Portugal. De resto sou aquilo que se chama um self made man.

Pedro Costa: Como se tem desenvolvido o projeto? Quais foram as suas diversas fases e em que ponto estamos neste momento, João Pedro? Por outro lado, que se segue agora? Já se sabe quando deverá estrear o filme, e onde, ou onde se pretende fazer essa estreia?

João Pedro Castro: O projeto sai “como Deus quer”… Devagar, à medida das nossas parcas possibilidades. Neste momento, já filmamos cerca de 40 minutos de filme num total previsto de 70. Prevemos terminar por volta do mês de maio. Quanto ao local da estreia, ainda não há certezas, apenas possibilidades.

Vila Nova - Famalicão ONline - João Pedro Castro - Entrevista Estórias de Villa . AECCB . filmePedro Costa: Muito bem! E afinal quem são os atores? Como têm vindo a ser contratados?

João Pedro Castro: Os atores são a fina flor da nossa sociedade, gente que aceitou o repto que lhe foi lançado. São, sobretudo, amigos que embarcaram numa aventura proposta por um idealista.

Pedro Costa: João Pedro, tens ideia de conseguir uma divulgação nacional com este projeto? Está prevista a distribuição na rede de salas de cinema atual? Como se irá processar a distribuição?

João Pedro Castro: O céu é o limite. Realizar e produzir um filme, ainda que no âmbito de um projeto de formação profissional – os meios técnicos e humanos ligados aos audiovisuais são fornecidos pela Escola Secundária Camilo Castelo Branco, do AECCB, que prontamente aderiu ao projeto, implica ter ambições “planetárias”. Para já, ainda é prematuro referir o que quer que seja relativo à promoção e distribuição.

Pedro Costa: João Pedro, esperas que este seja um filme destinado ao grande público ou é dirigido a setores alternativos, como certas franjas de gosto e apreciação artística?

João Pedro Castro: Espero sobretudo um público que compreenda a dimensão deste projeto. Mas essencialmente que apreciem o nosso estilo e o conteúdo da mensagem. Além disso, este filme será sempre um documento histórico sobre a nossa terra. E sim, quero muito público e muitos aplausos!…

Vila Nova - Famalicão Online - Entrevista a João Pedro Castro, por Pedro Costa - flyer da Festa Estórias de Viila 20012018

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Nota final: Quando ultimávamos a divulgação desta entrevista, tomámos conhecimento que amanhã, dia 20, se vai realizar no Clube Porta 22, a festa temática Estórias de Villa. Nesta festa, será efetuada a apresentação pública dos atores e serão gravadas as cenas finais das Estórias de Villa.

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Hiperligações:

Estórias de Villa

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Imagens: João Pedro Castro (arquivo pessoal).

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Categorias: Cultura, Sociedade

Acerca do Autor

Pedro Costa

Diretor e editor.

Comentários

  1. Conceição Teixeira
    Conceição Teixeira 21 Janeiro, 2018, 10:47

    Espero que a estreia do filme seja em Famalicão. Nada como serem os da “casa” a conhecer e reconhecer o trabalho deste nosso Amigo. mais uma vez, tudo de bom JP . Abreijos

  2. Anónimo
    Anónimo 21 Janeiro, 2018, 10:35

    Estou ansiosa pelo resultado final!!! Decididamente o nosso JP é um grande idealista e concretizador dos seus projectos. Desejo toda a sorte do Mundo a ele e a todos os participantes. Mas acima de tudo… muita diversão que nisso eles são verdadeiros experts. Um abraço para todos

  3. Anónimo
    Anónimo 19 Janeiro, 2018, 22:29

    Será um sucesso certamente estarei na estreia do filme

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